segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Um pedido diferente...

Vira e mexe recebemos pedidos para passeios das crianças e jovens da Acorde mas, no final do ano passado, o que veio foi mais que isso, foi uma cobrança...  Salete, nossa coordenadora de comunidade, foi surpreendida com o apelo de algumas crianças e jovens para visitar um abrigo, promessa feita há tempo.

Como a agenda de final de ano já estava bem apertada na organização, os jovens se prontificaram a organizar o passeio; espalharam a notícia, arrecadaram brinquedos e roupas e cada dois educandos ficaram responsáveis por uma criança do abrigo.  Na data marcada todos chegaram mais cedo, ajudaram a organizar os presentes e seguimos viagem para a cidade de Embu Guaçu, com um jovem voluntário vestido de Papai Noel.

Ansiosos para o encontro, cada um já sabia quem era seu “afilhado” do dia, com quem iria encontrar e promover uma tarde diferente e divertida, além de dar o presente.

A chegada foi uma festa só, muitos abraços e sorrisos, alguns ajudaram os funcionários a dar banhos nos menores e assim que as crianças iam ficando prontas desciam para a quadra. Pouco a pouco o lugar foi ficando repleto de crianças, e a tarde cheia de atividades, com show de malabarismo, brincadeira de bola, cantoria e danças juntos.

Uma tarde de aprendizado e descobertas. Muitos ficaram surpresos com a realidade de vida das crianças e jovens do abrigo mas, ao mesmo tempo, se reconheceram, pois criança é criança em todo lugar.  Micael Brito, 11 anos, adorou a experiência e conta: “eu gostei muito de brincar com eles e aprendi que devemos valorizar os nossos pais”.

Encerramos o ano com esta ação de protagonismo e solidariedade, muito orgulhosos por nossos pequenos cidadãos, que já multiplicam o que aprendem por aqui...


Priscila Fonseca
Agente de Comunicação e voluntária da ação

Editorial | Fevereiro 2014


Qual a importância da Acorde, afinal?

Janeiro é mês de formação na Acorde e, portanto, de refletir sobre o que fazemos, por que fazemos e aonde queremos chegar. Ao nos dedicarmos a tal tarefa temos sempre que pensar em nosso foco – a criança e o jovem –, e em nossa missão: fortalecê-los para o futuro. Mas que futuro é esse? O que precisamos fortalecer neles?

Vivemos tempos desafiadores, de grandes mudanças na forma como estamos no mundo e em como nos relacionamos, provocados pela revolução da comunicação e pela consequente rapidez na disseminação de conhecimento e informação. “Estamos apenas no início da evolução da comunicação digital. Estamos na pré-história de uma nova era (...)”, afirma o filósofo francês Pierre Lévy, doutor em História da Ciência pela Universidade de Sorbonne, em Paris.

Isso gera um sério problema para a sociedade em relação a como preparar as crianças de hoje para o futuro, porque não há como prever como será o mundo daqui a trinta anos.

No entanto, algumas reflexões podem ser feitas. Se olharmos para o sistema educacional atual, por exemplo, veremos que foi construído sob a égide da matemática e das ciências, seguindo a tendência e os valores da Revolução Industrial, como quase todos os sistemas educacionais do mundo ocidental. Assim, as crianças  continuam a ser educadas para desenvolver características que eram importantes no século XIX.

Mas, e agora, essas mesmas características ainda são fundamentais? Que ferramentas os adultos de 2040 precisam ter para enfrentar os desafios da contemporaneidade? O que precisa ser incentivado, nutrido e acolhido nas crianças? Segundo especialistas, como o inglês Sir Ken Robinson, consultor internacional em educação, a criatividade é uma delas. Soluções criativas serão necessárias para o desenvolvimento da humanidade e endereçamento dos problemas que hoje a desafiam, como água limpa e energia.

No entanto, a criatividade não é uma qualidade desenvolvida pela matemática e pelas ciências, como são o pensamento lógico e a capacidade analítica, mas sim atribuída à música, à dança, ao teatro, enfim, às artes em geral.

É nisso que a Acorde acredita, e parece que estamos no caminho certo.
Nota: sobre o assunto, vale a pena ver esta palestra: Sir Ken Robinson TED Talk


A importância do Brincar

Você conhece o Projeto Recreação?

O Projeto Recreação, que neste ano de 2014 conta com o apoio financeiro da AES Eletropaulo, foi pensado para crianças de 6 a 9 anos, os nossos pequenos, e utiliza o brincar como instrumento de diálogo, estímulo e desenvolvimento humano. O brincar faz parte da educação do ser humano e é a primeira e mais efetiva experiência em nosso aprendizado, sendo considerado um instrumento para o viver e conviver. 

O brincar, considerado como processo educativo, é promovido pela Acorde como uma oportunidade de desenvolvimento em que as necessidades básicas humanas são satisfeitas, tais como o praticar, escolher, perseverar, imitar, imaginar, dominar e confiar, adquirindo novos conhecimentos e habilidades, pensamentos e entendimentos lógicos e coerentes. 

Devemos encarar todo e qualquer indivíduo como agente do seu mundo, que constrói a si próprio, pensando e planejando suas ações. Brincando de roda e de bola, cantando e dançando, imaginando e interpretando, experimentando diferentes papeis e personagens, as crianças desenvolvem as habilidades que precisam para enfrentar os desafios do crescimento. 

O nosso plano pedagógico para 2014 considera como linguagem as brincadeiras de roda (que trazem em suas coreografias as simbologias específicas de unidade, considerando a importância de cada ser), as cantigas populares (que, ao longo da história, transmitem lendas e cultura através da oralidade, consolidando o vínculo afetivo e emocional entre pessoas de diferentes idades, cultuando assim a ancestralidade), e as danças populares (um patrimônio artístico cultural, de significativa importância na dinâmica da nossa sociedade e que, historicamente, vem cumprindo um papel de organização, manutenção e recriação de tradições herdadas das diferentes etnias que constituem o povo brasileiro). Através delas estimulamos e desenvolvemos características intrapessoais e interpessoais, como a autoconsciência, o autocontrole, a empatia e a cooperação. 

O futuro da nossa sociedade será determinado pelas condições oferecidas aos indivíduos nela inseridos. E é nessa perspectiva que a Acorde deseja acontecer: disponibilizando o universo das brincadeiras como instrumento de construção e educação humana.

Mauren Picelli
Assistente de Coordenação Pedagógica